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Em carta, Papa expressa vergonha e remorso

 Publicado em 21 de março 2010 O papa Bento XVI enviou carta aos fiéis irlandeses, na manhã deste sábado, em que admite “graves erros de ju...

 Publicado em 21 de março 2010
O papa Bento XVI enviou carta aos fiéis irlandeses, na manhã deste sábado, em que admite “graves erros de julgamento” por parte dos bispos do país nos casos de abusos sexuais cometidos por religiosos. O pontífice anunciou investigação formal de algumas dioceses, seminários e ordens católicas.

– Eu abertamente expresso a vergonha e o remorso que todos nós sentimos – diz Bento XVI na carta.

O assunto não é novo na Igreja. O papa João Paulo II ainda era vivo quando a arquidiocese de Boston (EUA) protagonizou os primeiros grandes escândalos de abusos de menores por sacerdotes. Oito anos depois, é o pontificado de Bento XVI que enfrenta uma enxurrada de novas acusações em vários países – da Alemanha ao Brasil.

Perguntas e respostas sobre os casos que abalam a Santa Sé
Quando começaram os escândalos?

Em 2002, o arcebispo de Boston (EUA), Bernard Law, renunciou ao posto ao admitir ter protegido um padre que abusou de jovens de sua congregação. O caso fez com que outros episódios semelhantes viessem à tona, provocando a pior crise da história da Igreja Católica americana. As dioceses do país desembolsaram centenas de milhões de dólares em indenizações – o que levou algumas delas à concordata. A maioria dos casos denunciados teria sido cometida décadas antes.

Qual é a origem da atual crise?

O último capítulo da crise começou na Irlanda, em maio de 2009, quando dois relatórios oficiais revelaram que centenas de crianças irlandesas sofreram abusos sexuais por parte de padres do país durante décadas, sobretudo na arquidiocese de Dublin, entre 1975 e 2004. Quatro dos cinco bispos acusados de ignorar as denúncias renunciaram ao cargo. Meses depois, o Papa convocou os outros bispos para uma reunião de emergência no Vaticano, em que classificou o abuso de crianças de “crime hediondo” e “pecado grave” – e censurou os religiosos por não agir com firmeza. Neste sábado, o Vaticano divulgaria uma carta aos católicos irlandeses, na qual Bento XVI indicaria “claramente” quais as medidas adotadas para fazer frente às denúncias – o primeiro documento escrito por um Papa sobre pedofilia.

Em que outros países houve denúncias de abusos?

Desde a publicação dos relatórios irlandeses, casos de abusos sexuais e de omissão de bispos vieram à tona em outros países da Europa – Alemanha, Suíça, Holanda, Itália e Áustria anunciaram na semana passada que começariam a investigar centenas de denúncias de atos impróprios que teriam sido cometidos em igrejas e escolas católicas. Autoridades da Igreja vieram a público para pedir desculpas às vítimas e a seus familiares. Na terça-feira, o Vaticano confirmou que casos semelhantes também ocorreram no Brasil, em resposta a denúncias feitas pela imprensa de que coroinhas teriam sofrido abusos em Arapiraca, a 146 quilômetros de Maceió, Alagoas.

Há ligações de Bento XVI com supostos casos?
A arquidiocese de Munique suspendeu um padre condenado por abusos sexuais durante o período em que o Papa era arcebispo da cidade. Bento XVI envolveu-se na decisão de enviá-lo para sessões de terapia, em 1980, depois do surgimento de denúncias. Diariamente, a arquidiocese está recebendo novas denúncias de abusos sexuais e físicos.

– É como um tsunami – disse na sexta-feira Elke Huemmeler, diretora da recém formada força-tarefa de prevenção a abusos sexuais.

Além disso, os casos na Alemanha envolveram até mesmo o padre Georg Ratzinger, irmão do Pontífice, que liderava os rapazes do coro da catedral de Regensburg. Ele era suspeito de omissão, mas negou saber dos casos de abusos e foi inocentado pelo Vaticano.

O que prevê o Direito Canônico sobre os casos de abuso contra menores?

Segundo o monsenhor Inácio José Schuster, vigário-geral da Diocese de Novo Hamburgo e vigário judicial do Tribunal Eclesiástico Regional, a vítima de atos de abuso ou seus familiares devem procurar oficialmente o bispo diocesano para formular uma denúncia. O bispo, então, decreta a abertura de um processo administrativo penal, cuja pena máxima, se confirmada a culpa, é o afastamento da Igreja. Em caso de instauração de inquérito policial, o bispo deve se colocar à disposição das autoridades para tudo o que se fizer necessário. Durante as investigações, o padre citado como abusador deverá renunciar a seus encargos eclesiásticos, até que esteja concluído totalmente o processo.

Por que a Igreja tende a esconder os casos e punir os padres acusados apenas com transferência para outros postos, em vez de recorrer à Justiça comum?

Em alguns países de cultura jurídica anglo-saxã, os bispos que sabem, fora do segredo sacramental da confissão, que seus sacerdotes cometeram delitos são obrigados a denunciá-los às autoridades judiciais. Nos demais casos, a Congregação para a Doutrina da Fé – última instância, que conduz realmente o processo – não impõe que os bispos denunciem os padres. No entanto, aconselha as vítimas a elas mesmas denunciarem os abusadores também às autoridades civis, para evitar outros crimes.

Casos de abusos sexuais são mais comuns entre religiosos?

Não, esse tipo de crime ocorre em todos o segmentos da sociedade. Os casos cometidos por religiosos ganham mais publicidade pela posição que essas pessoas têm na comunidade – e, também, pela confiança depositada em sua autoridade espiritual.

– O religioso deve ser o Cristo no meio do povo, um profeta – aponta a irmã Thereza Rosa Benedetto, professora de Direito Canônico na PUCRS e juíza do Tribunal Eclesiástico Regional Sul III de 2ª Instância de Porto Alegre.

Grande parte dos abusadores, inclusive, está dentro de casa, aponta a assistente social Eva Faleiros, pesquisadora do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria). Segundo ela, a vida religiosa é apenas uma das “coberturas legais” que o abusador usa para não ser descoberto:

– Ou ele é familiar, amigo da família, ou alguém que tem contato com crianças, como professores, religiosos, vizinhos, pessoas que moram no mesmo terreno, médicos.

Psiquiatra forense da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Rogério Cardoso reforça que a pedofilia é uma doença que independe de profissão. Ele pondera, porém, que alguns padres poderiam procurar a vida religiosa na expectativa de que a religião oferecesse um freio a suas fantasias sexuais – ainda assim, esses casos seriam raros.

Por esses motivos, defende irmã Thereza, os candidatos ao sacerdócio devem ser avaliados com esmero ainda no período de estudos e formação.

– Muitas vezes as tendências para a pedofilia são evidentes. É responsabilidade dos senhores bispos ter muito cuidado na formação de seus candidatos – diz a irmã.

O celibato favorece a ocorrência de abusos?

Segundo Rogério Cardoso, da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, a impossibilidade de se casar não influi no comportamento de religiosos abusadores.

– Às vezes é o contrário: a pessoa com dificuldades sexuais é quem busca na Igreja uma opção de vida sem sexo – afirma.

Para ele, é mais provável que uma pessoa procure a vida religiosa porque é pedófila do que se torne um pedófilo ao cumprir suas obrigações como religioso.
Fonte: zero hora

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