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Belém é segunda colocada em homofobia

Publicado em 14 de setembro 2009 Vencer as barreiras do medo e da vergonha e denunciar casos de violência por causa da orientação sexual se...

Publicado em 14 de setembro 2009
Vencer as barreiras do medo e da vergonha e denunciar casos de violência por causa da orientação sexual se tornou uma das mais importantes bandeiras do movimento gay no Pará. A escolha não foi por acaso. Uma pesquisa realizada no ano passado revelou que de cada dez homossexuais da capital paraense sete já se sentiram discriminados. Quando se trata de agressão física, verbal, ameaças ou crimes como violência sexual, o número também impressiona. Seis de cada dez entrevistados disse já ter sido agredido. “Se compararmos estes resultados aos obtidos nas pesquisas anteriores, temos em Belém um dos mais altos índices de discriminação encontrados, sendo superado apenas pelos dados da pesquisa de São Paulo, onde esse índice foi de 72,1%”, constatam os coordenadores da pesquisa no relatório que foi enviado às Organizações Não Governamentais que atendem aos gays e também às autoridades do Estado.

A pesquisa revelou que para os gays, as ruas e praças de Belém são uma espécie de campo minado. São nesses espaços que ocorrem mais da metade das agressões relatadas pelos entrevistados. Mas nem por isso pode se dizer que a casa é um lugar seguro. “É bastante significativo o número das agressões que ocorrem em espaços de intimidade ou de assídua interação (como casa, escola e trabalho) e que tem como algozes amigos ou conhecidos familiares e vizinhos”, afirmam os pesquisadores no mesmo relatório.

A maioria dos gays revelou uma rotina onde prevalecem piadas, chacotas ou mesmo palavrões. Apesar de tudo, permanecem calados. Muitos chegam a apanhar. Poucos são os que ousam levar o caso para uma delegacia de polícia ou mesmo desabafam com a família.

Cerca de 40% dos entrevistados disseram que não chegaram sequer a falar para terceiros sobre a agressão sofrida. Apenas 16,5% tiveram forças para procurar a polícia nos casos de agressão. Os demais falaram com familiares, procuraram o Ministério Público ou as ONGs do movimento GLBT.

A pesquisa batizada de “Política, Direitos, Violência e Homossexualidade” foi realizada em capitais do Brasil e de outros países da América Latina. Ao todo, já foram ouvidas mais de sete mil pessoas no Rio de Janeiro, Buenos Aires, Porto Alegre, São Paulo, Recife, Santiago do Chile, Bogotá, Cidade do México. No ano passado, durante a parada gay de Belém, cerca de 40 pesquisadores foram a campo e ouviram quase 500 pessoas.

O trabalho é coordenado pelo professor Sérgio Carrara, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e teve, em Belém a coordenação da antropóloga Cristina Donza. “O papel da pesquisa foi trazer o tema para o debate, mostrar que essa é uma realidade que temos que enfrentar”, diz a antropóloga.

Desfile protestará contra o racismo e a violência

“Um outro mundo só é possível sem machismo, racismo e homofobia”. Esse é o tema escolhido para a parada gay deste ano, que será realizada no dia 27 de setembro. A ordem é dar ao evento um caráter de menos festa e mais reivindicação.

Os temas do racismo e machismo não estão no título da parada por acaso. A ideia é unir forças com segmentos que também sentem na pele o preconceito e agressão. Organizados há muito mais tempo, negros e mulheres já conseguiram mais avanços que os homossexuais. Um exemplo é a lei Maria da Penha, que tornou as punições mais severas para os agressores das mulheres e também a que tornou o racismo crime inafiançável. “Falta uma lei que criminalize a homofobia”, reivindica o coordenador administrativo do Grupo Homossexual do Pará, Eduardo Benigno.

O projeto já existe. Ganhou o número de 122/2006. Já passou pela Câmara dos Deputados e agora está no Senado onde enfrenta resistência de setores mais conservadores. Todos os dias, centenas e e-mails chegam aos gabinetes dos senadores pedindo que o projeto não seja aprovado. A maioria tem origem entre grupos evangélicos para quem o homossexualismo ainda é tratado como doença e como tal deveria receber tratamento e não apoio.

Um lugar para acolher denúncias de agressões

Apresentada em Belém durante o Fórum Social Mundial realizado em janeiro deste ano, a pesquisa que tirou o véu sobre a triste rotina de violência a que são submetidos os gays de Belém por causa da opção sexual, serviu para fortalecer uma luta antiga do movimento gay no Estado: ter um lugar específico para acolher as denúncias de agressões contra os homossexuais. Assim como já ocorreu com as mulheres vítimas de violência, os gays não se sentiam à vontade para levar o caso para uma delegacia comum. O temor de ser alvo de mais preconceito inibia as denúncias.

“Não era fácil para um gay agredido pelo companheiro, por exemplo, ir a uma delegacia e relatar o fato. Lá, por causa do machismo, seria alvo de chacota e mais agressão de delegados e investigadores. Por isso muitos não denunciavam. Não queriam ser vítima de uma segunda agressão”, conta o coordenador administrativo do Grupo Homossexual do Pará, Eduardo Benigno, ele mesmo uma vítima do preconceito. Benigno conta que o momento mais difícil foi o início da adolescência, quando se tornou alvo de chacota da turma por causa da opção sexual. O pior é que além da hostilidade dos alunos, ainda convivia com a apatia dos professores. “Um dia disse ao professor que se ele não ajudava um aluno da escola pública, alvo de preconceito a se fazer respeitar, não servia para ser professor. Acabei expulso”. O episódio que marcou a vida de Benigno foi a semente para ele iniciasse a militância que abraçou desde os 16 anos.

De acordo com ele, o medo de denunciar os casos de agressão gerava não apenas sub-registros. O mais grave é que contribuía para impunidade, que,por sua vez, incentivava novas agressões.

A mudança começou com a criação do Centro de Combate à Homofobia, órgão ligado à Defensoria Pública do Estado. Mas o avanço ainda é tímido. Desde que foi criado há três meses, o centro recebeu apenas 14 denúncias. É pouco provável que esse número represente a totalidade dos casos ocorridos em Belém nesse período.

Benigno, contudo, diz que há motivos para comemorar: “Ainda é pouco (o número de denúncias), mas a gente só está atuando há pouco tempo. Ainda estamos numa fase de divulgar o serviço e o importante é que já temos um espaço para acolhimento do homossexual vítima de violência”, diz, contando que das denúncias que chegaram ao centro, duas dizem respeito a assassinatos de gays.

Além da questão da violência, a pesquisa buscou traçar um retrato dos homossexuais da capital paraense e também buscar pistas sobre a aceitação destes pelos heterossexuais.

Um detalhe que chamou a atenção da pesquisadora foi a participação de pessoas que se definiram heterossexuais na parada gay: cerca 38,9%, o maior índice entre todas as cidades pesquisadas.

A explicação é que muitos foram apoiar amigos e parentes, mas também havia quem via no evento apenas um acontecimento festivo da cidade, ideia que os organizadores querem mudar neste ano, deixando a parada com um caráter “mais reivindicatório”. “Queremos tirar da parada aquela pecha de ser uma micareta gay”, diz o coordenador.

Outro resultado da pesquisa que chamou a atenção foi o fato de a maioria dos participantes da parada ser formada por jovens. Cerca de 70% dos entrevistados tinham menos de 30 anos.

(Diário do Pará)

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