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Alice é Harry Potter de anáguas

 Publicado em 23 de abril 2010 Quando foi anunciado que Tim Burton iria dirigir uma versão de Alice no País das Maravilhas (veja fotos e tr...

 Publicado em 23 de abril 2010
Quando foi anunciado que Tim Burton iria dirigir uma versão de Alice no País das Maravilhas (veja fotos e trailer) , a novidade foi motivo de festa tanto para fãs do cineasta norte-americano quanto da obra do escritor inglês Lewis Carroll. O diretor parecia a escolha perfeita para transpor uma história tão surreal, complexa e embotada de signos.

Talvez por conta dessa (imensa) expectativa que o filme de Burton incomode tanto – e não de maneira positiva. Embora tenha lá seus momentos de encantamento e humor, Alice está mais para um mais para um Harry Potter de anáguas do que para Edward Mãos-de-Tesoura.
O roteiro, talvez na tentativa de resultar em um blockbuster com apelo para levar várias faixas de público às salas de exibição, se apropria da história de Lewis Car­­roll (sobretudo Alice através do Espelho) para reconstrui-la como uma espécie de jornada feminista com toques politicamente corretos. É uma produção dos estúdios Disney, voltada para toda a família, o que talvez tenha feito com que Burton tenha deixado bastante de lado sua marca registrada: o universo dark e gótico.

Alice, diferentemente do que ocorre nos livros, é construída ao longo da narrativa como uma heroína, aos moldes do paradigma identificado em inúmeras culturas e tratado pelo estudioso norte-americano de mitologia e religião Joseph Campbell no clássico O Herói das Mil Faces, base para roteiros de filmes que vão da saga Star Wars a Matrix. Só que, no caso de Alice, esse percurso de autossuperação da personagem parece forçado, incoerente com os textos que originaram o filme.

Aos 19 anos, Alice (Mia Wasi­­kowska) está prestes a ser pedida em casamento quando um velho conhecido seu, ser que ela julga viver apenas em seus sonhos, chama sua atenção. O mesmo coelho que a atraiu ao País das Maravilhas quando menina ressurge e a atrai de volta ao absurdo mundo onde reencontrará o Cha­­peleiro Louco (Johnny Depp, que consegue emprestar uma bem-vinda me­­­lancolia insana ao personagem), a lagarta Absolom e as rainhas de Copas (Helena Bonham Carter, na melhor atuação do longa) e Bran­­ca (Anne Hathaway).

Os primeiros momentos de Alice nessa outra dimensão são mágicos. Mas, na medida em que se torna evidente que caberá a ela trazer para si a missão de vencer o Mal, o que a leva, inclusive a vestir uma armadura de guerreira medieval, a trama de Carroll vai para o ralo. Perde de vez seu caráter mais transcendente e anárquico, se transformando em mais um filme de aventuras cheio de efeitos especiais, sacrificando o que havia de insólito no universo do autor britânico.

O mundo surreal criado por Carroll, apesar de visíveis toques estéticos de Burton, alguns muito bonitos, surge menos delirante do que se previa. A tecnologia do 3D é excessiva e, por vezes, nem ajuda na evolução do enredo. Ao fim da projeção, resta uma frustrante sensação de que o invólucro é inadequado para o conteúdo, convencional e careta demais para ter sido resultado da união de talentos tão incomuns e especiais. Gazeta do povo

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