Pena pena

Um dia, quando eu morava em Londres, resolvi visitar uma grande galeria de arte. Antes de entrar naquele prédio tão antigo, vi uma pena branca no chão. Era pequena e em forma de concha ela ia rodopiando com o vento gelado daquele mês de inverno...
Fiquei ali parado por um instante. Observei a pena dançar na calçada. Depois, uma chuvinha começou a cair e um vento mais forte passou, dando um empurrão com tudo na peninha, que voou para o céu e se perdeu no meio das folhas secas das árvores...

A vida acontece a toda hora. Ela se revela em tudo. Ela não se esconde. Somos nós que somos tímidos demais para as pequenas coisas que se mostram eternas...
Não é difícil ouvir as pessoas dizendo que o tempo passa rápido, que a vida é breve. Sim, a vida pode não ser tão longa, os meses do ano às vezes se atropelam e os anos passam. Mas se olhássemos mais a face da vida, se parássemos mais para ouvir o grilo que canta na noite, a risada de crianças brincando, a forma cristalina da água que está no nosso copo, o tom de voz daqueles que amamos, as árvores e suas folhas que brotam e caem...

Ah, se eu pudesse saber por onde anda aquela pena branca que brinca de rodopiar, por quais caminhos ela seguiu, qual o vento que a embala... Não, não saberei jamais.
Só certamente sei que ela vive em mim, na eternidade dentro de mim.

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