igoospel

"Fui toda a viagem a rezar com medo que algo acontecesse"

Publicado em 19 de outubro 2009 O largo da igreja Matriz, a 100 metros do Orfeão de Águeda, foi ponto de encontro de amigos e familiares qu...

Publicado em 19 de outubro 2009
O largo da igreja Matriz, a 100 metros do Orfeão de Águeda, foi ponto de encontro de amigos e familiares que procuravam saber novidades dos acidentados do capotamento do autocarro, anteontem, sábado, no Alto de Arrifana.

Isabel Vaz, de 15 anos, estudante e coralista do Orfeão de Águeda, quase que previu a tragédia que esperava o grupo de Águeda. Visivelmente afectada pelo acidente, contou, ao JN, os momentos de aflição que viveu, sublinhando que "fui toda a viagem a rezar com o medo que acontecesse alguma coisa com o autocarro".

"Depois de tantas notícias sobre acidentes com autocarros, fico sempre com medo de sair. Na noite de ontem, o condutor ia com excesso de velocidade. Disso não tenho dúvida, alguns quilómetros antes na saída da A1 em Santa Maria da Feira, o motorista teve de fazer uma travagem para dar passagem a um outro veículo. Foi aí que me apercebi que seguíamos a grande velocidade".

Isabel Vaz conta os momentos de horror. " Depois foram os gritos e muito pó. O meu tio rebentou um vidro para sairmos, mas tive de ficar a segurar a cabeça da minha tia que estava sem o antebraço esquerdo". Isabel Vaz acredita que, depois dos momentos que viveu, nunca mais vai ter coragem para andar de autocarro, afirmando que "serão momentos que ficarão marcados para sempre".

Já Gracinda Marques veio à missa das 10 horas para dar graças a Deus por ter escapado ao acidente. "Saí do Orfeão de Águeda há 15 dias e recusei este convite, senão estaria no meio dos acidentados. Só posso agradecer a Deus por estar salva". "O Orfeão de Águeda era uma grande família, mesmo grande. Só quem por lá passa é que pode dar o devido valor."

Benilde Costa, também de Águeda, explica que a união do grupo tem sido o segredo para a longevidade. "O meu pai fez parte deste grupo até aos 80 anos. É uma vida inteira dedicada a uma causa".

Alberto Figueiredo, membro da direcção, foi um dos oito passageiros que saiu ileso do acidente, apesar de ter sofrido algumas escoriações nos braços e nas costas. A sua mulher perdeu o antebraço. Visivelmente emocionado, garante que "o autocarro entrou na curva a grande velocidade e que depois começou a capotar".

Explica que também já conduziu autocarros e que tem a noção clara daquilo que é velocidade ou não. Alberto Figueiredo recorda que "esta será a segunda maior tragédia depois do acidente ocorrido com o grupo Folclórico do Vouga, em 1997, no dia 13 de Agosto de 1997, onde faleceram oito pessoas".

"São indescritíveis os momentos que vivemos no interior do autocarro. Foi uma aflição que não tem dimensão", garantindo que "tudo fará para pôr a colectividade de pé. Sei que vai ser difícil, mas vamos conseguir, pois somos todos muito unidos", remata.

No Largo da sede do Orfeão, que permaneceu fechada durante a manhã, António Tavares Chula, conhecido pelo Chula de Águeda, poeta do povo, lamentava a tragédia, sublinhando que, ao longo de 40 anos, deu muito a esta colectividade, pelo que "esta tragédia mexe muito comigo, até porque tenho uma irmã e o meu cunhado que ficaram feridos".

José Henriques faz parte da direcção do Orfeão, mas agora está no coro da Igreja. Anda nestas lides desde os seus dez anos. Aprendeu com o seu pai, agora com 99 anos, a ser coralista. Na missa das 10 horas, José Henrique diz que sentiu a falta de seis elementos do seu coro que estão hospitalizados, sublinhando que ainda não conseguiu encontrar uma forma para dar a notícia ao seu pai. "Como é que vou dizer ao meu pai, de 99 anos?"

Fonte: Jornal de noticias

Relacionados

news 4077016476514188459

Postar um comentário

emo-but-icon

item