A rede social dos evangélicos
Publicado em 3 de setembro de 2009 Sou de formação evangélica, embora esteja fora da Igreja há mais de 20 anos. Mas reconheço que a formaçã...
https://www.igoospel.com/2009/09/rede-social-dos-evangelicos.html
Publicado em 3 de setembro de 2009
Sou de formação evangélica, embora esteja fora da Igreja há mais de 20 anos. Mas reconheço que a formação evangélica impulsiona a acumulação de capital e incentiva a educação formal. Para dar um exemplo, meu avô era negro e analfabeto e se converteu: provavelmente não há hoje um analfabeto na família toda (ele teve 15 filhos e não conheço todos os meu primos).
Mas acho que ninguém comenta o que penso ser uma das maiores virtudes do meio evangélico: a rede de proteção social e a vida comunitária. As igrejas evangélicas costumam ser lugares onde se formam fortes laços comunitários e, bem ou mal, um lugar onde se pratica democracia e participação popular. Devemos nos lembrar que a propriedade da igreja é, normalmente, da própria comunidade ou, no mínimo da igreja nacional. A maioria delas escolhe seus representantes por eleições (não conheço a estrutura política da Universal, mas conheço bem a maioria das outras), onde membros leigos das igrejas podem ser eleitos e participar. É claro que há lutas políticas, muitas delas não muito leais, e isso se reflete nas divisões que existem no meio, com suas diversas denominações. Mas ser membro de uma igreja significa pertencer a um grupo que se ajuda.
Pessoalmente, devo o melhor da minha formação musical ao meu tempo de igreja: canto coral, prática instrumental, composição, arranjo, treino em formações de grupos musicais, regência. Não há muitos outros lugares no Brasil onde possa se treinar isso na prática e de graça sem ser um músico profissional (que até recebe por isso). Culturalmente, não é que tudo possa ser desenvolvido nas igrejas, mas há certas áreas que florescem e são até incentivadas.
Quanto à acumulação de capital, basta ler ‘A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’, de Max Weber. Um livro fascinante e extremamete revelador sobre a formação protestante. Parecia que eu lia o pensamento que grassava na minha família, de 4 gerações por parte de mãe e 3 gerações por parte de pai dentro do protestantismo. Recomendo a qualquer um que queira entender as diversas correntes, mesmo as de hoje em dia. A ascensão social de grupos de formação evangélica está muito bem explicada ali.
Não penso em voltar a pertencer a uma igreja evangélica. Não partilho mais a mesma fé e crença. Mas espero ter conseguido o distanciamento necessário para apreciar o que houve de bom naquela formação.
Por Ademário em Nassif Online
Sou de formação evangélica, embora esteja fora da Igreja há mais de 20 anos. Mas reconheço que a formação evangélica impulsiona a acumulação de capital e incentiva a educação formal. Para dar um exemplo, meu avô era negro e analfabeto e se converteu: provavelmente não há hoje um analfabeto na família toda (ele teve 15 filhos e não conheço todos os meu primos).
Mas acho que ninguém comenta o que penso ser uma das maiores virtudes do meio evangélico: a rede de proteção social e a vida comunitária. As igrejas evangélicas costumam ser lugares onde se formam fortes laços comunitários e, bem ou mal, um lugar onde se pratica democracia e participação popular. Devemos nos lembrar que a propriedade da igreja é, normalmente, da própria comunidade ou, no mínimo da igreja nacional. A maioria delas escolhe seus representantes por eleições (não conheço a estrutura política da Universal, mas conheço bem a maioria das outras), onde membros leigos das igrejas podem ser eleitos e participar. É claro que há lutas políticas, muitas delas não muito leais, e isso se reflete nas divisões que existem no meio, com suas diversas denominações. Mas ser membro de uma igreja significa pertencer a um grupo que se ajuda.
Pessoalmente, devo o melhor da minha formação musical ao meu tempo de igreja: canto coral, prática instrumental, composição, arranjo, treino em formações de grupos musicais, regência. Não há muitos outros lugares no Brasil onde possa se treinar isso na prática e de graça sem ser um músico profissional (que até recebe por isso). Culturalmente, não é que tudo possa ser desenvolvido nas igrejas, mas há certas áreas que florescem e são até incentivadas.
Quanto à acumulação de capital, basta ler ‘A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’, de Max Weber. Um livro fascinante e extremamete revelador sobre a formação protestante. Parecia que eu lia o pensamento que grassava na minha família, de 4 gerações por parte de mãe e 3 gerações por parte de pai dentro do protestantismo. Recomendo a qualquer um que queira entender as diversas correntes, mesmo as de hoje em dia. A ascensão social de grupos de formação evangélica está muito bem explicada ali.
Não penso em voltar a pertencer a uma igreja evangélica. Não partilho mais a mesma fé e crença. Mas espero ter conseguido o distanciamento necessário para apreciar o que houve de bom naquela formação.
Por Ademário em Nassif Online